ARTISTA VISUAL | EBÓ-PERFORMER
Drenagem - caminhos decoloniais


















Drenagem - caminhos decoloniais
Ação - transe|to - ebó-Performance, 2019
2 corpos negros, vestido bege, tesoura e descosturador
Um vestido longo e volumoso, estilo que lembra a moda Vitoriana aristocrática de meados do século XIX descosturado. A moda deste período representa a tradição colonial no Brasil — antiga colônia de Portugal. O ato de descosturar um vestido se assemelha a retirada de camadas e cargas simbólicas da cultura europeia imposta pela sociedade colonizadora, e, por consequência, dos nossos corpos. O movimento é de libertação dos pesos e das muitas camadas finas, mas que pesam, sedimentadas por um passado escravista e racista. Drenar a terra para outra semeadura.
Duas bixas pretas, originárias do sertão nordestino, se assemelham em histórias e identidades, em tempo que suas subjetividades as direcionam para um novo circular, um caminho, ainda que um movimento distópico, um caminhar.
João Pedro tem pele retinta, é uma pedra que vira poeira ao deslocar, uma artista produtiva e promissora, criado e envolto de mulheres, mas não só isso. Nossas cidades fazem parte de uma história submergida, assim como a nossa —, não contada. A barragem do Sobradinho talvez seja a nossa represa, de concreto armado e águas marejadas. Pau-a-pique e Pilão Arcado.
Eu sou preto de pele mais clara, e outras características suficientes para me tornar um corpo racializado, embora no sertão — território formado de povos originários por muito desconhecidos e negros que por aqui se aquilombaram.
O nosso encontro é também diáspora, e é quilombo.
Na ação desfilo lentamente por entre as pessoas —usando um vestido de modelo aristocrático - o desfile tem o intuído de chamar a atenção do publico para tais questões — seguindo até um local onde João Pedro se posiciona - um palco com um banco de madeira onde eu me sento estático — João Pedro numa ação de repetição, descostura lentamente o vestido, respeitando o tempo necessário — indeterminado — drenando — camada por camada — descosturando fio-a-fio. Num processo lento, mas necessário, para a liberdade dos nossos corpos.
Vestido desenhado Por João Pedro
Costura: Luiz Marcelo (Saia), Dona Vanda (Camisu)
Saiotes de armação do terreiro
Fotos: Fernando Pereira e Juliano Varela
Performance realizada durante o mercado cultural no Aldeia do Velho Chico 2019.
© 2022 Luiz Marcelo