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Água doce também se revolta

Água doce também se Revolta

Ebó-instalção, 2020

Bordado submergido em juta crua, espelho e cana de açúcar, água do leito e terra das margens do rio São Francisco  e materiais variados

Um assentamento à Osùn, numa manta de estopa bordei a frase Água doce também se revolta. Utilizo tons terrosos em referência ao período de cheia dos rios, quando as águas ficam turvas. A terra está em festa misturando-se com a água. Eu adoro ver água barrenta.

Pilão Arcado é território afogado. D'onde eu venho as águas corrediças lavaram e guardaram memórias nos seus mistérios, profundos. Águas calmas, outras vezes, revoltas como redemoinho no pé das pedras.

 

Com a construção da barragem de Sobradinho, durante o período de ditadura militar no Brasil, milhares de famílias perderam suas moradias e suas histórias. Nossas memórias. Nossas identidades.

Como reconstruí-las? Parte dessa história foi coberta de concreto armado, outra parte a colonialidade silenciou.

 

A obra é um Ebó às águas – aos rios – e ao território sagrado de onde provém o cultivo, o alimento votivo e as folhas sagradas que curam e matam de acordo com a necessidade.

Pra findar o fim dos tempos,  às águas lavrarão a terra e justiça há de ser feita!

Dizem que o Pilão vai embora

Está chegando a hora, de nos retirar

Ai que saudade do meu ranchinho, vai ser morada de Iemanjá...

 

Pra lua nós não iremos,

Pra marte também não dá,

 

Ficamos aqui na terra, pedindo a Deus para nos ajudar (...)

 

Dizem que depois da ida,

Será destruída, toda construção...

Ó que tristeza, minha alma chora, eu amo tanto meu velho Pilão

Em breve nos estaremos,

Vivendo em outro lar,

Mas nunca esqueceremos, da nossa história aqui nesse lugar(...)

 

Pra lua nós não iremos,

Pra marte também não dá.

 

Fiquemos aqui na terra, pedindo a Deus para nos ajudar

Fiquemos aqui na terra, pedindo a Deus para nos ajudar(...)

 

(José da Franca)

 

 

O assentamento foi erguido num barco que faz a travessia entre as cidades de Juazeiro-Ba e Petrolina-Pe.

Fez parte da mostra flutuante, 2020, "Antes que tudo vire cinzas" na programação da Aldeia do Velho Chico.

Fotos: Acervo pessoal

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